Eu: Isso é um vomito, é um pedido e um manifesto. é um apelo por um teatro mais botânico. Se quiser ficar quieto, fica. se quiser falar, fala. Me manda tomar no cu e me diz que eu to tosco, mas acho que esse é um bom lugar pra gente começar.
Santo Antônio abandonou os homens e foi compartilhar deus com os peixes. Porque estavam tão interessados em Smartphones que não tinham saco pra ouvir Antônio, pois os peixes ouviam e respondiam e Antônio respondia de volta, e assim foram Antônio e os peixes felizes para sempre.
Isso pra mim é êxtase, não é se permitir ser louco o suficiente pra falar com peixes, é precisar compartilhar a dádiva da existência com tanta força que você tem que falar com eles. Eu falo com plantas. Agora quero falar aos porcos. Falo porque preciso, eu juro. A angústia anda comendo minhas palavras, cara.
Esses dias fui ver o ensaio de um amigo, achei bom e ruim, chato e ótimo e patati patatá, mas não foi isso o que me pegou, até porque lá, enquanto eu tava assistindo ao ensaio eu pensei "Que porra é essa que eu to fazendo nesse ensaio?? Eu não estudo no El departamento, sou burro e nem dessa merda eu entendo, ninguém aqui quer saber mesmo o que eu penso do que eles estão fazendo." Eu podia ficar gastando meu teatrez, mas preferi dizer que achei uma bosta, rir depois e dizer o que eu disse no começo. Mas não para por aí, o que me pegou mesmo foi o que ele me disse quando estávamos conversando sobre o que ele tava desenvolvendo. Ele me disse estava fazendo uma peça filosófica e que o bom é que os atores tem muito embasamento para falar sobre o trabalho. Na hora isso me despertou, mas só no dia seguinte é que eu realmente saquei para quê. A gente tá falando pra quem??
A gente caga na cara do público, burrocratiza, filosofiza, joga banana, gasta o bom português que ninguém conhece, rasga a boa poesia que ninguém leu, dá play no nosso bom repertório extracotidiano europeizante que não tem nada a ver com a gente e que vem de um russo que disse pra procurarmos o nosso e espera sinceramente que alguém além da nossa classe
#artisticoburguesaplanopilotense ache alguma coisa que ultrapasse o olhar chatocrítico que impera entre os chatocríticos, mesmo quando eles gostam.
Pergunta a professora para joãozinho: De quem é a função gostar na equação acima citada?
Eu to agonizando há dias, em coisas desse tipo, sabem?
Penso muito na nossa velha bruxa falava quando a questão é essa. Ela dizia algo sobre a autenticidade residir em nós mesmos. Tá, até aí, maneiro, mas eu juro que eu tô muito cansado da produção teatral ensimesmada que eu tenho visto. E eu tenho visto muito. Peças de ninguéns pra ninguéns em um acordo puramente comercial e hipócrita suficiente para levantar o nariz para tudo o que tá além do umbigo. O Rio de Janeiro é do tamanho do umbigo do carioca. O teatro brasiliense é do tamanho do umbigo dos seus atores. Que merda!!
Na sequência falo mal de nossas peças (com um pouquinho do teatrez que com tanta dedicação e cara de "estou entendendo" que lanço mão, e quem já esteve em uma rodinha de fim de aula já me viu fazendo, tão dedicadamente contraí)
Seja Camélia (pecinha, vamos combinar! Ninguém entendia nada daquela bosta, cheia de piadinhas sem graça e soluções de iniciação teatral para conflitos gerados numa lógica boba de encenação)
Seja de Carne, Osso e Concreto (peça morta, feita de velhos jovens para jovens que não os compreendem e com má vontade, o que é um tanto absurdo)
Seja as nossas mais geniais pesquisas que ninguém viu e que estão no departamento de artes cênicas da UnB em Brasília Brasil América Terra (E nesse momento vos convido a olhar Alcione, estrela central da constelação de pleiades, não sei quantas vezes maior que o sol e rir do que quer que seja que você acha que é bom. Sou só eu aqui que acha que a própria opinião, pretensão, desejo, senso, julgamento é o engove da ressaca?? O Calypso do meu Pará???)
E aí? Aí que foda-se!!! Tô tendo a oportunidade singela de acompanhar um monte de gente que se acha Alcione, a marrom, tomar no cú gostoso e achar ruim. Hoje na peça do concreto tinham 12 pessoas! Eu acho é muito! Que que tem não ir ninguém?? O dia que os irmãos Guimarães forem para um trabalho meu, o dia que algo que eu fiz for pro CCBB, o dia que eu precisar da tia Nitza Tenenbaum pra corrigir minha pecinha porque ela tá pouco filosófica, ai eu realmente fracassei.
Sinceramente, eu prefiro fazer teatro. Teatro simplinho, sem firula. Comedia dell'arte, teatro mambembe, vaudeville...
Pau no cu de todo esse teatrinho fac feq fiq foc fuck com produção, pauta, o José Aldo e a porra toda, sabe? É um disfarce safado pra comercialização da gente mesmo, mocozando a nossa empáfia de antroprofessopoetaprofeta paras massas. To realmente esperançoso no dia da catástrofe em que a vida vai parar de ser regida pela hierarquia e mais curtida pelo momento.
É muito triste ver que nada do que se vê é realmente inspirado em nada porque todo mundo tem algo muito importante pra dizer, e curiosamente diz de um jeito que ninguém vai entender.
Hoje o Hugo disse algo sobre como é ruim quando sua personalidade é mais forte do que aprender o que é essa personalidade. Isso é deixar o medo vencer, né? Tô mesmo cansado de ter medo das coisas, de ser pouco sincero, de sorrir pra tudo e achar que é assim mesmo porque todo mundo faz também. E olha que eu to bem sóbrio. A essência do teatro é a doação, é compartilhamento, né??? será que ensimesmado, será que comercializado, será que cheio da gente mesmo dá pra atingir essa porra?????
Aí entram as plantas.
Muito mais longevas e importantes pra esse planeta que qualquer pessoa podre que rola por aí e totalmente curvadas as vontades dos canteiros, podas educativas e essa porra toda. E o mesmo vale pra todas as senhoras desse planeta.
Você já se colocou a questão "que diferença eu faço no mundo??" Mundo mesmo, não na sociedade... A gente mora num monte de montanha explodida, erosões e solos poluídos, cercados de árvores derrubadas por pessoas que ganham porcamente pra fazê-lo. Cagamos na água, comemos comida suspeita plantadas em enormes plantations de variação pífia( os índios amazônicos conheciam mais de 2000 espécies de plantas comestíveis, quantas vc conhece?), em grande parte de gosto extratlântico. Nos movemos em mais um monte de metal extraído do nosso país, mais uma vez por pessoas que ganham porcamente pra fazê-lo, e pagamos absurdamente caro por isso, se andamos de coletivo pagamos astronomicamente mais em suaves prestações diárias por uma péssima relação com tudo, movido pela sustentação super ficial do planeta que era feita da ossada e resto de tudo que virou "resto" e também ridiculamente cara. Produzimos 240 mil Toneladas de "Lixo" por ano só no Brasil. Isso é só material e eu nem to falando de gente rica, porque eles não merecem mensão. Comemos mal, dormimos mal, nos tratamos muito mal e pra quê?? você já viu alguém seguro na vida?? já viu alguém que se sente realmente confortável? A gente é o poço da insensibilidade e solidão. Resolvemos fazer teatro, com o intuito de pelo menos por um momento contratado estar trocando um pouco de afeto com uma galera e o que fazemos? Reproduzimos a sociedade em todas as escalas (pré/produção/pós) e nem pra ZOAR isso a gente serve.
Eu quero fazer algo que seja mais parecido com as plantas, sabe?? Algo que esteja aí pra dar muito sem contratos prévios. Dar porque é isso mesmo, organicamente e sem filosofia, sem palavra, sem medo, sem mais, só abertura, dádiva e acolhimento. Fazer pra Elisângela, a segurança do CCBB, ou pra Flávia, a brigadista, pro Rafael, o técnico e não só pras tias ricas que pagam os 5 pila do ingresso, ou pra quem entende pq sabe a minha dor. E não precisa ser G7, basta ser troca sincera, que o G7 não sabe fazer.
Sei lá se é impossível, sei lá se isso é teatro. Mas é isso o que eu quero.
E você??
Rods:
Penso em Cláudia, sei lá, veio ela. Não era broder, não era próximo. Só tirei uma foto no cena dizendo que tava trabalhando. Um cara me deu um tapa nas costas agora. Levantei e reagi. Nunca reagi.sei lá. As árvores vivem 100 anos, a claudinha viveu 40 de Sensualidade? Sexo é pouco? É muito bom.
Eu: Tem árvore de 600... trocando o tempo todo com o ambiente e possibilitando seu sexo, sem lição de moral, mas eu quero que meu bom se foda, eu quero o seu bom, Rods. Seu melhor é sexo? então será um caralhão gigante proc. acho só que a gente se aproveita pouco, sabe?? Medindo aproveitamento por tempo... se for assim, nunca seremos árvores
Rods: As árvores não medem
Eu: já conversou com elas?? :D
Rods: No final da tarde, tipo as17 h,eu abraçava o poste de luz em frente a casa da minha avó na samambaia. Era muito bom, concreto quente, com o vento frio. Mas acho que rolava c as árvores tb. Hj o socorro é a cama
Eu: hahahahahah Eu abracei todas as árvores da estação siqueira campos até o jucati no dia em que a Cláudia morreu... Essa lembrança foi de algo feliz à algo palha no tempo do pensamento.
Lupe: Fico muito confuso, inspirado e acho que a gente deve sentar no bar/sala/aqui em casa pra conversar sobre esse texto. Tem uma dimensão de 'honestidade' em que eu estou muito interessado, e não emsimesmadamente interessado (apenas), mas creio que a dimensão de honestidade me interessa porque ela é uma ferramenta para uma conexão interessada. Na oficina do Luna Lunera, que alguns de nós fizeram, cheguei a esse par: "estar interessante, estar interessado" em cena. Me parece algo que é mínimo e ainda assim tão difícil... é tão simples.. A Jo Kukhatas no Fórum Shakespeare atribuía a espíritos invocados a missão de nos conduzir no momento mágico da interpretação, somos canal, instrumento, não estamos sozinhos, temos de ser gratos à materialidade que nos excede (para cima e para baixo) e que nos coloca no meio de uma amplitude imensa que nos reduz a nada, a não ser a um ponto de conexão, lugar de fluxo. Deixa ser! Vivi os abraços de árvores com o Pito no caminho para o Jucati em Copacabana no dia em que morreu a Cláudia (!!), foi muito marcante porque foi a primeira vez que pensei mesmo em como uma planta está disposta à adaptação, sem isso querer dizer que uma planta é um ser resignado, e nesse dia morre um ser vivo/orgânico tão... tangível nas nossas vidas. Mas sim, as plantas me parecem um ser que escuta (ausculta) plenamente, com toda a plenitude da sua constituição (matérial/energética...), enfim... que texto legal... gostei. Muitas coisas... angústia é medo de ter medo, né? Diriam uns. Às vezes também é libertadora, diriam outros...
Guy: O que eu tenho pra colaborar é a minha disponibilidade! Porque é isso mesmo, organicamente e sem filosofia, sem palavra, sem medo, sem mais, só abertura, dádiva e acolhimento. Tentar fazer um bolo ou uma lavagem mesmo... Comestível!
Eu: Guy <3
Fizemos a lavagem um tempinho depois, mas não discutimos o texto.